"Apropriação Stirneriana, Antropofagia Oswaldiana"
Msc. Rodrigo Ornelas
(Quinta, 13-12, às 16h00 - Sala 05 do PASL)
Resumo:
No centro da crítica radical que o jovem-hegeliano Max Stirner fazia à tradição filosófica essencialista e sacralista, estava a atitude de apropriação. É como proprietário (Eigner) que Stirner supera a servidão ideológica, que os hegelianos de esquerda ainda não superavam em suas críticas à religião e ao hegelianismo. Stirner parte da denúncia da alienação do indivíduo particular a uma ideia, ou entidade qualquer, que se pretenda superior a ele, e que se põe entre ele e o mundo, como mediação. Stirner, então, acrescenta que, do mesmo modo que na Modernidade, nos descobrimos por detrás das coisas como espírito, também mais tarde nos encontraremos por detrás das ideias como indivíduo (particular, único e corpóreo). Mas não apenas isso: encontramo-nos precisamente como seu criador e, portanto, proprietário. A apropriação é a característica do “único” que consideraremos como a contrapartida de Stirner ao essencialismo, pois é a inversão dos fatores de sua definição: aquele que era propriedade da Ideia revolta-se e toma-a como sua propriedade. Apropriando-se de tudo, Stirner impede que qualquer coisa ou ideia possa se apropriar dele e, assim, dissolve o problema da sua determinação por um “outro”, como uma essência ou uma verdade objetiva qualquer, dando autonomia individual ao sujeito singular e corpóreo que é ele. Semelhante crítica e semelhante reivindicação de autonomia identitária, encontraremos na cultura brasileira contemporânea, como crítica e reação à nossa cultura semicolonizada, através do movimento modernista da Semana de 22. É no centro nevrálgico desse marco cultural que encontramos também uma proposta de apropriação como crítica ao sacralismo intelectual e construção de uma identidade cultural nacional: a antropofagia, de Oswald de Andrade. Do mesmo modo que, para Stirner, somente como proprietário deixo de ser propriedade, para Oswald apenas tomando a devoração como visão de mundo (Weltanschauung) poderemos deixar de ser “cultura de importação”. Na antropofagia, internalizamos o outro, como nossa propriedade, absorvendo-o e usando-o à nossa maneira. Não por acaso ela foi uma prática execrada pelos jesuítas que, segundo Oswald, trouxeram o messianismo para uma terra livre, onde antropofagia (recuperada por Oswald como visão de mundo) significa a permanente dissolução do "tabu", e, como em Stirner, uma recuperação do corpo ante uma cultura “espiritual”. Este texto é um uso atual e local da sugestão de Stirner em diálogo com a proposta similar oswaldiana, como crítica e como norte da cultura brasileira, incluindo aí a filosofia.
PROGRAMAÇÃO INTERNA GERAL DO GT POÉTICA PRAGMÁTICA NO III ENCONTRO DE SÃO LÁZARO
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