O grupo Poética Pragmática parabeniza o membro Rodrigo Ornelas que passou ( dia 17/05) com sucesso pelo exame de qualificação, com um substancioso material que já representa boa parte da sua dissertação. Com banca constituída pelos professores Ivo da Silva Jr.(Unifesp) e André Itaparica (UFRB), além do orientador, Crisóstomo. Brevemente, então, teremos a conclusão de mais uma dissertação sobre Max Stirner, em chave bem contemporânea!

A dessacralização da Cultura no pensamento de Max Stirner - Hilton Leal

A dessacralização da Cultura no pensamento de Max Stirner
Hilton Leal

    A comunicação tem por objeto a dessacralização da cultura no pensamento de Johann Kaspar Schmidt, mais conhecido pelo pseudônimo de Max Stirner (1806-1856). Recorrentemente abordada sob o viés anarco-individualista a obra de Max Stirner possui afinidades com o existencialismo que não deixaram de ser percebidas por autores como Henri Arvon, Martin Buber e Albert Camus. Contudo, mesmo essas abordagens mais propriamente filosóficas da obra do autor deixam de capturar um aspecto, crucial na minha opinião, para a compreensão do caráter específico da mesma: a sua natureza crítico-cultural. É esse aspecto e sua relação com o modo de desenvolvimento argumentativo exposto no livro O Único e sua Propriedade que a dissertação aborda através da análise das três etapas de sua efetivação: as dessacralizações da individualidade, da linguagem e do vínculo social. Para Stirner, a cultura moderna apresenta-se em um duplo aspecto; por um lado representa uma relativa emancipação em relação aos laços naturais, assim como à dependência imposta pela tradição e pelos costumes, mas por outro lado impõe uma dependência ainda maior em relação à razão, ao pensamento, à verdade e à lei moral. A duplicação do mundo em um mundo de essências e um mundo de aparências bem como a desvalorização de tudo que se encontra marcado pelo signo da particularidade e da corporeidade são resultados que Stirner considera inevitáveis da cultura moderna em sua proposta de Esclarecimento. Em função das nefastas conseqüências de tal depreciação da “carne” e duplicação do real que redundam em uma completa “espiritualização do mundo”, é que Stirner indica a necessidade de uma dessacralização emancipatória dos aspectos essencialistas/idealistas da Modernidade. Seria preciso “dissolver” a aparente auto-subsistencia de certos pensamentos submetendo-os aos meus interesses e pulsões,submetendo o “poder do espírito”, “degradando-o” à condição de “espectro” e reduzindo desse modo o seu poder sobre mim à condição de “mera obsessão”. Apenas através dessa “heresia” o espírito poderia ser “desconsagrado” e então eu faria uso dele a meu “bel-prazer. A realização de tal proposta cumpre-se em três etapas, cada uma das quais analisada na dissertação: a dessacralização da individualidade, da linguagem e da sociedade. O propósito é demonstrar que o resultado visado pelo autor é a deflação do modo de lidarmos com nossos pensamentos, pretendendo com isso promover uma
valorização de muito do que a cultura moderna teria depreciado.

Amor fati: fatalismo e liberdade em Nietzsche - Prof. Dr. André Itaparica (UFRB)

Amor fati: fatalismo e liberdade em Nietzsche 
Prof. Dr. André Itaparica (UFRB)

    Há no pensamento de Nietzsche uma tensão entre fatalismo e liberdade, que foi sintetizada com precisão por George Stack: “De todos os paradoxos da filosofia de Nietzsche, a noção mais paradoxal consiste na insistência em um fatalismo universal e na assunção simultânea do ‘poder’ subjetivo ou uma capacidade de mudar a própria vida, de responder a imperativos, de exercer uma liberdade supostamente negada” (Nietzsche and Emerson. Athens: Ohio UP, 1992, p. 180). De fato, convivem em Nietzsche a afirmação do destino e o imperativo de “tornar-se o que se é”, fórmula que já encerra, em si mesma, o caráter paradoxal dessa proposta. Diante disso, podemos perguntar em que medida o pensamento trágico de Nietzsche se diferencia de um fatalismo niilista e complacente (o “fatalismo turco”). Procuraremos abordar essa questão dialogando com a interpretação de Stack sobre a influência de Emerson nessa questão, relacionando o tema do amor fati com os textos de juventude “Fatum und Geschichte” e “Willensfreiheit und Fatum".

As instituições e a garantia da liberdade e igualdade - Dr. Genildo Ferreira da Silva (UFBA)


As instituições e a garantia da liberdade e igualdade
Dr. Genildo Ferreira da Silva (UFBA)

   Para compreender o Estado dentro das premissas colocadas por Rousseau, é imprescindível entender que tal estado decorre do pacto estabelecido entre os seus membros e esses devem criar obrigações mútuas e, certamente, a base desse pacto deve estar fundada na vontade geral. Quando Rousseau aponta que o surgimento da sociedade civil se dá com a invenção da propriedade e que essa só trouxe crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores ao gênero humano, não se deve considerar que devemos tomar necessariamente a propriedade como primeira instituição social, mas sim, como a mais funesta dentre
todas elas, e certamente a que mais trouxe desigualdades. Entretanto, no Projeto de constituição para a Córsega, encontra-se uma defesa clara do sentido social da propriedade. De fato, existe uma certa obscuridade sobre as críticas que o genebrino faz às instituições, principalmente a família, o trabalho e a propriedade. Se as instituições são denunciadas como responsáveis pela cisão entre os homens, Rousseau trata as instituições como a possibilidade para se encontrar uma saída para a organização da sociedade, pois “aquele que ousa empreender a instituição de um povo deve sentir-se com capacidade para mudar a natureza humana”. Jean-Jacques aponta que para se alcançar a mais sólida e perfeita instituição, a ordem do estado deve basear-se na educação que pode levar os cidadãos a desenvolverem atitudes voltadas para a vida em comum, permitindo assim que o espírito social que deve ser obra da instituição presida a própria instituição.


Habermas e a reconstrução do materialismo histórico - Laiz Fraga


Habermas e a reconstrução do materialismo histórico
Laiz Fraga

Resumo: Em "Para Reconstrução do Materialismo Histórico" Habermas propõe uma releitura da concepção marxista da história de modo a promover ligações desta com a sua concepção de agir comunicativo. A formulação marxista da história, que é fundada em uma ideia de práxis instrumental (expressa no conceito de trabalho de Marx), propõe que a história do gênero seja tratada indissociavelmente com a história das forças produtivas. Para Habermas, a concepção de práxis proposta por Marx não é suficientemente abrangente para caracterizar as mudanças na estrutura social ao longo da história. Segundo o autor, o conceito de trabalho se refere ao saber empírico tecnicamente utilizável ligado ao desenvolvimento das forças produtivas, porém, não considera de forma satisfatória a interação intersubjetiva. Essa esfera da ação estaria elucidada de forma eficiente em sua ideia de ação comunicativa, que considera os expedientes da interação comunicativa na esfera das relações interpessoais. Para o autor, essa esfera da ação tem papel decisivo no desenvolvimento da história. Desse modo, Habermas pretende oferecer uma compreensão da história a partir do processo de aprendizado social – aspecto deixado de lado pelos marxistas que desenvolveram uma ideia de história pautada na ação instrumental. Esse trabalho pretende tratar do materialismo histórico (como foi exposto por Habermas) a partir da crítica aos conceitos de trabalho social e história do gênero marxista, bem como a contribuição oferecida pelo autor à teoria marxista a partir de sua ideia de agir comunicativo.

A apropriação como crítica ao essencialismo, em Max Stirner - Rodrigo Ornelas

A apropriação como crítica ao essencialismo, em Max Stirner
Rodrigo Ornelas


Resumo: Em sua mais importante e conhecida obra, O Único e sua Propriedade, um dos principais representantes do hegelianismo de esquerda, Max Stirner apresenta a mais radical crítica à modernidade entre seus contemporâneos, chegando a caracterizar, para alguns comentadores, a derrocada do próprio movimento jovem hegeliano. O princípio básico dessa crítica era a denúncia da alienação do indivíduo particular a uma ideia, ou entidade qualquer, que se pretenda superior a ele, e que se põe entre ele e o mundo, como mediação, ou seja, precisamente, uma essência. Na modernidade – segundo ele, inaugurada pelo cristianismo, uma vez que com o cristianismo consolidamos a noção de que por trás do mundo material nos encontramos como Espírito – nossa essência assumiu diversas formas, desde Deus até chegar ao seu avatar moderno, o Homem (ou a humanidade). Stirner, então, acrescenta que, do mesmo modo que antes, nos descobrimos por detrás das coisas como espírito, também mais tarde nos encontraremos por detrás das ideias como indivíduo (particular e único). Mas não apenas isso: encontramo-nos precisamente como seu criador e, portanto, proprietário (Eigner). O proprietário é a característica do único (Einziger) que consideraremos como a contrapartida de Stirner ao essencialismo, pois é a inversão dos fatores de sua definição: aquele que era propriedade da Ideia revolta-se e toma-a como sua propriedade. Desse modo, desenvolvo nesse texto a relação crítica entre a atitude de apropriação do mundo pelo indivíduo e a alienação desse indivíduo na filosofia, dentro da crítica stirneriana.

A razão e a verdade salvas pelas luzes: um confronto intelectual entre Habermas e Foucault - Marcos Vinícius Paim da Silva


A razão e a verdade salvas pelas luzes: um confronto intelectual entre Habermas e
Foucault
Marcos Vinícius Paim da Silva

Resumo: Algumas novas leituras têm movido a perspectiva de um diálogo entre as
ideias político-filosóficas de Jürgen Habermas e Michel Foucault. Parte delas opondo-
se a esta relação e outras tentando evidenciar uma possibilidade de discussões em
que Habermas havia obtido uma insuficiente compreensão do projeto foucaultiano. A
nosso ver ambas são válidas, já nos adiantando em nossa proposta, pois contribuem
para uma melhor compreensão do nosso atual presente político, já que estes filósofos
empreenderam comumente uma análise ao “projeto da modernidade”. Habermas como
um defensor e Foucault, entre outros pensadores considerados pós-modernos, como um
crítico. Com isso, estes dois filósofos possuem cada um a seu termo, uma significativa
produção intelectual, responsável por nos colocar diante de discussões e problemáticas
políticas, culturais e sociais das atuais sociedades modernas que nos movem como
sujeitos, à melhor nos entendermos nelas. Levaremos em consideração as noções de
razão e verdade e das suas relações com o poder, foco das críticas feitas por Habermas
à Foucault. Contudo, nos propomos a mostrar o quanto estas críticas são minadas, pelo
próprio pensamento foucaultiano, na medida em que o texto de Foucault O que são
as Luzes?, nos conduz aos verdadeiros propósitos deste autor no que diz respeito a
estas duas clássicas noções do pensamento filosófico. Neste sentido, é com um olhar
detido sobre o ideal iluminista abarcado por Foucault neste texto que tomamos como
referência, que encontramos a possibilidade de perceber o quanto inconsistentes se
mostram as criticas habermasianas. A própria obra de Foucault, toda ela, a nosso ver,
já se constitui como resposta clara e explícita para muitas das distorcidas interpretações
que em seu entorno sempre se tentou realizar.

Doutorando em Filosofia e Teoria Social pela Universidade Federal da Bahia – UFBA.
E-mail: vinipaim@yahoo.com.br


Série ANPOF 2012


Em uma série de postagens o grupo Poética Pragmática divulgará os resumos dos membros do grupo aprovados para a XV Encontro Nacional da ANPOF, que será realizado no período de 22 a 26 de outubro de 2012, na cidade de Curitiba, Paraná.


"Tradicionalmente a ANPOF realiza, a cada dois anos, Encontros Nacionais de Filosofia reunindo os mais expressivos pesquisadores em Filosofia de todo o país e, nos últimos anos, tem contado também com a participação de professores e pesquisadores estrangeiros."
Mais informações: www.anpof.org.br

XXXII Encontros Nietzsche: Verdade e linguagem



XXXII Encontros Nietzsche: Verdade e linguagem
17 e 18 de maio
Auditório da FFCH-UFBA, no Pavilhão Raul Seixas, em São Lázaro
Programação
17 de maio
10h. Conferência de abertura
Maria Filomena Molder
Fazer de si próprio uma experiência - uma leitura do "Prefácio” a Humano, demasiado humano
14h Mesa-redonda.
Márcio José Silveira Lima. Lógica e Retórica no jovem Nietzsche
Jarlee Salviano. Schopenhauer como educador: presenças da filosofia schopenhaueriana no jovem Nietzsche
Ivo da Silva Jr. A semiótica dos afetos: Nietzsche e a questão da linguagem
16h. Conferência
Antônio Marques
A natureza pluridimensional da linguagem segundo Nietzsche e Wittgenstein
18 de Maio 
8:30h Mesa Redonda
Wilson Antônio Frezzatti. Verdade e Sociedade: algumas considerações sobre Nietzsche e Montaigne
André Luís Mota Itaparica. Nietzsche: Crítica à metafísica como crítica à linguagem
Emmanuel Salanskis. Grammaire et métaphysique dans la critique du language du dernier Nietzsche
10:30h. Conferência de encerramento
Scarlett Marton
O problema da linguagem em Nietzsche. A crítica enquanto criação 
Realização: Grupo de Estudos Nietzsche (GEN/USP); PET-Humanidades (UFBA); PET-Filosofia (UFBA) 
Apoio: FAPESB; FFCH-UFBA
Você está convidado a deixar seu comentário – breve ou superficial que seja – a qualquer dos textos.