Permanecemos no paradigma Jovem Hegeliano

No século XIX, alguns filósofos alemães, discípulos de Hegel, debatiam intensamente sobre a Modernidade: suas caracterísaticas, seus horizontes, seus fundamentos, seus vícios e virtudes. Em suma, suas possibilidades. Esse grupo de autores denominado Movimento Jovem Hegeliano era composto de figuras ilustres como Bruno Bauer, Ludwig Feuerbach, Max Stirner, Karl Marx e Friedrich Engels. As principais discussões travadas versavam sobre o Cristianismo, sua manifestação nas instituições e práticas ocidentais, e, principalmente, sobre o que seria preciso para libertá-las do engessamento que a presença da religião no Estado - e o consequente apequenamento dos indivíduos - inevitavelmente legava.

A seu modo, cada um desenvolveu uma narrativa filosófica que apontava para um mesmo horizonte - embora enfatizando a insuficiência das narrativas que lhes eram contemporâneas -, qual seja, o do rompimento da alienação e empoderamento dos indivíduos sobre uma realidade abstraída e congelada, com vistas a construí-la sob a égide de novos valores e novos interesses.

Num contexto em que certas instituições e práticas tornam-se fatidicamente nocivas e castradoras, a atuação para redescreve-las, como tentaram fazer os discípulos de Hegel, parece mais do que viável. Parece indispensável. Por exemplo, a compreensão de que a democracia e a república são regimes políticos desejáveis e de que o mercado é uma instituição econômica produtiva e interessante não é argumento forte o bastante para ignorarmos o modo como tais arranjos e instituições tem atuado contra os indivíduos e incidido contra princípios que esses indivíduos sustentam. A observação desses pensadores sobre os resquícios essencialistas (do cristianismo) nas instituições nos mostra a importância de sugerir rearranjos institucionais que, fatalmente, vão de encontro ao essencialismo. Nessa medida, é fundamental lidarmos com os dilemas neo-hegelianos de fundamentação da cultura, das práticas, dos arranjos, das instituições e, principalmente, é importante lidarmos com a desalienação do que está entre os indivíduos e tais esferas.

Revisar a democracia, passo a passo, sugerindo instituições alternativas que incluam o respeito a certos princípios e direitos é uma possibilidade que se mostra cada vez mais palatável. A inclinação que nos debruça sobre essa possibilidade é uma característica de nosso tempo que sinaliza uma profícua ligação à filosofia dos Jovem Hegelianos.

(Esse texto é embasado em Habermas e Unger e tem como inspiração imediata o interessante comentário habermasiano de Laiz Fraga, também publicado em nossa página, Permanecemos Contemporâneos dos Jovens Hegelianos)
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